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terça-feira, 28 de agosto de 2007

Breve Lapso de Paz em Meio ao Caos

Hoje aprendi que as coisas só morrem definitivamente quando nós aceitamos isso. Depois de percebermos o que nos aconteceu por dentro, claro.

Há coisas que têm fim próprio, morrem “sem nossa permissão” – mas isso não as impede de apodrecer dentro de nós. Desse apodrecimento vêm as dores tão difíceis de entender e amenizar – amenizar, porque curar curado não é da alçada de ninguém. É mais ou menos como o princípio espírita descrito no livro Violetas na Janela: se você chora, não se conforma pela morte de alguém, a pessoa não descansa como deveria. O mesmo se aplica às coisas abstratas que cultivamos, quase sempre sem sequer saber direito a razão: quanto mais se lamenta, mais dói; quanto mais dói, mais demora a passar; quanto mais demora a passar, mais se lamenta; quanto mais se lamenta... acho que já me fiz compreender.

Eu hoje descobri o quão completa sou. Descobri também que auto-suficiência é mais um estado de espírito do que prepotência, logo, na maior parte do tempo eu sou sim auto-suficiente. Eu quase me basto, e com essa descoberta aceito de vez que não preciso de pessoas que possuem um “foda-se” com bateria vitalícia, que não desliga nunca. Assim os 59 kg que a balança marcou hoje à tarde até já parecem pesar menos, pois é só o meu peso que carrego de agora em diante.

Também começo a cogitar a possibilidade de possuir alguma doença, distúrbio, bipolaridade, ou qualquer outra coisa que o valha. Em pouco mais de 12 horas oscilei entre vários humores: eu chorei, eu quis matar, eu quis só dormir, me senti agraciada com a amiga que tenho, quis fazer uma festa de arromba pra me produzir estonteantemente e brilhar da cabeça aos pés, eu chorei de novo, agora surpreendentemente calma. Mas mesmo com a dor nos pés enfaixados, o cansaço que dá só de pensar no dia de amanhã, com o sono que me domina, com a frustração de olhar pra trás, eu ainda assim lembro do Herbert Vianna cantando “esqueça o que te disseram/ sobre casas, filhos, televisão/ é preciso sangue frio pra ver que o sangue é quente/ e que vai ser diferente”.

Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Ah! Vai ser diferente...

terça-feira, 14 de agosto de 2007

De Coisas Sem Explicação

Nas quase exatas 730 voltas que a Terra dera desde o primeiro beijo, nunca adormeceram abraçados, tampouco amanheceram juntos. Mas as lembranças do que houve de fato – e de todas as outras coisas que faltaram – esmigalhavam-na, ela sentia-se partida em pedaços microscópicos e nada no mundo seria capaz de montar novamente o quebra–cabeças estirado na cama. Aproximadamente 17.520 horas em que um guardou o outro no pensamento – às vezes no fundo, às vezes no raso, mas guardavam – e nem tempo ou distância expulsavam aquilo parecido com saudade.

Bastou um abraço e estava irremediavelmente perdida, assim como sozinha: desde o primeiro toque foi por demais deles aquilo tudo, incompartilhável com qualquer pessoa, pois mais ninguém era capaz de sentir ou ao menos entender a força que atraía para em seguida repelir. Ela era seduzida para onde quer que ele estivesse, ele afastado pra longe do que quer que fosse aquilo que ela sentia.

Obedecendo a um ciclo involuntariamente estabelecido, 24 meses passados e volta o turbilhão: acusações inflamadas, esperanças sabidas em vão, muitas madrugadas desperdiçadas, precioso sono perdido – nada mais que o reflexo do desejo de voltar no tempo e começar do jeito certo. Mas qual seria? Telefonar mais, não telefonar? Fazê-lo sentir o quanto ela pensava neles, não pensar? Permitir-se a entrega, ignorar pra não doer mais tarde? Tarde demais. Tudo errado, desde o início, tempo demais transcorrera pra que as cicatrizes fossem apagadas e as mágoas esquecidas por completo.

E agora?

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Eu x Eu Mesma

Porque uma parte de mim é inatingível, por melhores que sejam as intenções. Ali nasce toda a minha loucura, tão trabalhosa de filtrar antes que transborde – mas o trabalho é apenas uma gentileza minha, para que o mundo a absorva em doses homeopáticas e não assimile conscientemente as muitas transformações que me assolam a cada dia ou dois. Seria eu uma mensagem subliminar? Talvez; vezenquando é mesmo conveniente ser subentendida.

Entretanto, ao passar do tempo desenvolvi a proeza de mudar e continuar a mesma. Tenho –ao menos transpareço- então algo parecido com estabilidade emocional, porém totalmente suscetível às oscilações alheias. Em outras palavras: um conforto frágil, pra meu azar sem plástico bolha ou cantoneiras de isopor a protegê-lo. [...]

sexta-feira, 3 de agosto de 2007