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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Da Crença Na Inevitabilidade

Não, jamais alguém poderá entender isso que cuido preservar em mim, essa espécie de irremediavelmente espontânea atração pelo meio-estranho-que-às-vezes-até-parece-só.

Ninguém além de mim precisa saber que não cogito em vão, tampouco carecem suspeitar do aparente propósito futuro de passados encontros casuais.

Nada mais preciso que não tempo, para transmutar acaso em planejadas coincidências, sutis como as faíscas dos olhares que finalmente maculam o silêncio de alguns anos.


Na verdade,
Sequer nos conhecemos.
Apenas nos sabemos
Há tempos, dividindo
O céu e o asfalto
Da mesma imensa cidade
Separados por duas vidas
Regidas pelo acaso.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Do Que Calam As Bocas

Perto dele ela se sentia uma ampola ambulante de serotonina, longe não tinha certeza de que ele soubesse o que deixou quando partiu. Ela ouvia mil vezes a mesma música e queria dizer que se encantava com as coisas mais simples, mas ao pensar no tempo decorrido recolhia as palavras, maldizendo a inaptidão para prever reações e desejando que ele tomasse a iniciativa. Sim, mil vezes sim, ela adoraria mergulhar de cabeça, compartilhar planos e sonhos, deixaria até que ele tentasse convencê-la a ouvir outra música. Tudo e qualquer coisa para nunca mais ficar longe daquela paz que ele emana no abraço, do beijo que incendeia nem da voz que faz tremer.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Apenas Mais Um Recado

E se ele perguntar se estou zangada
Por favor, avisem-no
A irritação gratuita é pra distrair da saudade
Não, eu não esqueço nem por um minuto
Ninguém notou a mágoa mal disfarçada?
Há um pesar que dissimulo em cada gesto
Pra reservar as lágrimas aos travesseiros

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Apnéia

Eu queria conseguir te dizer que tudo que eu faço escrevo e digo eu faço escrevo e digo pensando em você, mas eu não consigo dizer nada sem te ver bem na minha frente e a distancia sempre dificulta tudo na minha vida, mas mesmo que estivesses do meu lado eu provavelmente não diria porque tenho medo muito medo de você me olhar e dizer que talvez eu só esteja confundindo as coisas, mas eu sei bem de mim e do que se passa eu só não sei verbalizar de um jeito que todo mundo entenda e por isso eu fico parecendo meio maluca mas não é loucura, é só minha imensa comum e interminável vontade de ser feliz como todo mundo também quer que eu sei, e não é querer demais, é? Já é mais de meia noite e eu deveria estar na cama mas não estou, e mesmo que estivesse não adianta tentar dormir mas mesmo na cama eu estaria com papel e caneta na mão escrevendo tudo isso que você não sei por que não lê e talvez nem saiba que eu escrevo. Eu não estou apaixonada de forma alguma não é isso é só que eu gosto muito de você, como na musica sem gostar da chuva no sapato também não gosto de ser eu a triste mas eu gosto muito de você mesmo sabendo que talvez não adianta muita coisa. Mas não é por ser em vão que não me pesa então se for pesar que pese muito e que seja sentido quem sabe até chorado como se fosse mesmo um grande amor daqueles que arrebatam e tiram a fome e o sono. E se não for perda de tempo que dure um mês e meio ou o resto da vida e que seja forte pra curar as minhas dores todas e te fazer feliz como você nunca foi com outro alguém e que me ensine a ser forte por dois pra agüentar o que quer que venha contra a nossa vontade que parecer ser só minha mas se fosse também sua eu ficava tão feliz.

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Nota: Devido ao esgotamento imaginativo que acometeu a pobre aspirante a escritora, esse texto foi batizado pela Nira. ;)

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Da Espera e Outros Demônios*

Quero. Tão verdadeiramente, eu quero, e quero tanto que meu querer disputa espaço com já experimentados medos, defende a tapas seu canto dentro – e fora - de mim.

O primo temor é de não realizar meu desejo de completar-te, temo não te bastar, não te ser suficiente quando o que mais quero é suprir-te da necessidade de outrem. O receio seguinte é de querer-te em vão, pueril receio de não haver motivo para minha longa espera. De Frank Sinatra a Chico Buarque, do pôr-do-sol ao bar no caminho de casa, também o que não te atrai, ruídos que me chegam, cheiros que me alcançam, coisas que vislumbro, tudo me remete à essa ânsia de que retornes.

Há também o medo de ser interpelada por qualquer impedimento possível, por mínimo que seja, talvez até desconsiderável, mas ainda assim um obstáculo a interpor-se frente a meus, quem sabe nossos planos, se deveras existem e os compartilhas em igual – quisera eu maior – ansiedade. E me espreita também um derradeiro terror de não saber esconder devidamente o que me enreda, seja lá o que for isso que atormenta meu sono e minha fome. Ou deveria eu escancarar isso que pareço sentir? Lançar-me aos que não entendem, implorando julgamento e punição pelo que não fiz?

Dar-me-ia por satisfeita saber o que fazer com esse ensaio de sentimento que me devasta.


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* O título faz referência ao romance 'Do Amor e Outros Demônios', de Gabriel Garcia Márquez. A quem interessar possa: GARCIA MARQUEZ, Gabriel. Do amor e outros demônios. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. 221p. ISBN 8501042285 (broch.)