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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Da Espera e Outros Demônios*

Quero. Tão verdadeiramente, eu quero, e quero tanto que meu querer disputa espaço com já experimentados medos, defende a tapas seu canto dentro – e fora - de mim.

O primo temor é de não realizar meu desejo de completar-te, temo não te bastar, não te ser suficiente quando o que mais quero é suprir-te da necessidade de outrem. O receio seguinte é de querer-te em vão, pueril receio de não haver motivo para minha longa espera. De Frank Sinatra a Chico Buarque, do pôr-do-sol ao bar no caminho de casa, também o que não te atrai, ruídos que me chegam, cheiros que me alcançam, coisas que vislumbro, tudo me remete à essa ânsia de que retornes.

Há também o medo de ser interpelada por qualquer impedimento possível, por mínimo que seja, talvez até desconsiderável, mas ainda assim um obstáculo a interpor-se frente a meus, quem sabe nossos planos, se deveras existem e os compartilhas em igual – quisera eu maior – ansiedade. E me espreita também um derradeiro terror de não saber esconder devidamente o que me enreda, seja lá o que for isso que atormenta meu sono e minha fome. Ou deveria eu escancarar isso que pareço sentir? Lançar-me aos que não entendem, implorando julgamento e punição pelo que não fiz?

Dar-me-ia por satisfeita saber o que fazer com esse ensaio de sentimento que me devasta.


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* O título faz referência ao romance 'Do Amor e Outros Demônios', de Gabriel Garcia Márquez. A quem interessar possa: GARCIA MARQUEZ, Gabriel. Do amor e outros demônios. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996. 221p. ISBN 8501042285 (broch.)

3 comentários:

  1. "Eu ando t�o nervoso pra te escrever
    Os versos mais profundos
    Eu ro�o no seu bra�o e passo sem mexer
    Feliz por um segundo
    � sempre a mesma cena
    S� te ver no corredor
    Esque�o do meu texto
    Eu fracasso como ator
    S� dou vexame
    Fico olhando pros seus peitos
    Escorrego na escada,
    Acho que assim n�o vai dar jeito
    Educa�o Sentimental
    Eu li um an�ncio no jornal
    Ningu�m vai resistir
    Se eu usar os meus poderes para o mal"

    =D
    bom humor � fundamental: chutar a cara delguem no muro de salpico � divertido, mas fazer isso e depois soltar uma ironiazinha � muuuuito melhor

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  2. Da mesma forma eu temo ser a espera em vão;
    da mesma forma quero compartilhar o pôr-do-sol, o bar, o caminho de casa, a tarde chuvosa, o jogo de sinuca e o papo à luz de velas na beira da Lagoa...
    Da mesma forma temo ser impedida por um obstáculo, mínimo que seja... eles existem, estão em toda parte, nos fazem tropeçar, cair, e é preciso força para levantar e continuar...
    Escancarar o sentimento, gritar aos ventos que queimamos por dentro, expor os medos e desejos... sim, creio que é isso que devemos fazer... não há porque se arrepender do que fazemos, arrependimentos só se justificam por aquilo que deixamos de fazer...

    Tenha uma boa tarde chuvosa e trate logo de assumir o que sente.

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  3. Muito bom o texto!!!

    Afinal quem não tem medo de se deixar levar pelos sentimentos não é? Sentimentos que muitas vezes surgem do nada ou depois de muito!



    bjux nay ;*

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