Hoje é um daqueles dias em que a minha estranheza não lateja. Ela grita, alucinadamente. E, pra piorar, a bandida me escolta, passeia abraçada com aquele meu permanente desespero nato, que me desnorteia ante as obrigações da vida: escolher, cumprir, acertar. Eu não consigo ser alegre o tempo inteiro, oras. E é por “pensar demais” que muita coisa me escapa. Eu e minhas preposições desconexas, minhas peculiares construções frasais.
Ultimamente tenho oscilado nos primeiros momentos da manhã, logo depois de levantar da cama. E é uma coisa mais corporal mesmo: um dia eu acordo firme, pronta pra ouvir Jamie Cullum, deitada numa rede, com um vestido tão leve quanto a brisa que me passa pelo rosto; aí, no dia seguinte, eu acordo frouxa, frouxa, preciso de roupas bem justas porque eu me sinto despedaçar, e só mesmo Faith No More pra me manter centrada o suficiente.
A indecifrável atração pelo erro, isso ninguém explica ou entende. Existe uma eu que não sei ser fora de mim, ela sai torta, torta. Já disseram que é virtude, e do alto da minha presunção – quase sempre comedida – eu acho que talvez seja mesmo, porque dizem que ser bom nunca é fácil – e, por conta própria, descobri que não é nada indolor.
[É como uma febre que nasce no sangue e se percebe na pele quente; assim minha estranheza se externa. Ou aperto, ou angústia, chamem como quiserem esse meu desconforto com não sei o quê. É quase palpável, se eu for considerada uma extensão disso que me acontece dentro. A diferença nesse caso é que eu me sinto sem bordas, nada entre mim e o ar ao redor, esse ar que parece rarear na medida em que o invólucro lentamente se refaz. Porque o show tem que continuar.]