
Distrair pra não pensar.
...But I'm afraid I'm not qualified to do any of these things for you
Acho que só não escrevo mais porque não sei escrever simples. Absolutamente todos os dias me ocorrem grandes frases – bons amontoados de palavras, ao menos –, mas nem assim eu consigo transferi-las ordenadamente pro papel, cruas do jeito que nasceram. Da mesma forma que todo santo dia, em cada curva da estrada, eu tenho a nítida certeza de que VAI bater, ou que na próxima descida o freio NÃO VAI agüentar; Ainda assim, nunca bate, ou o freio dá conta, e eu sempre chego ilesa.
Não, não é uma tendência suicida mal reprimida, eu ainda quero, uma vez que seja, escrever – uma página ao menos – sem olhar no dicionário. E dane-se que um assunto não tem nada a ver com o outro, em mim nada se separa. É tudo um bolo só: angústia, saudade, contentamento, tristeza, serenidade, indignação e impaciência.
Eu tenho é vontade de quebrar todos os relógios do mundo, trapacear o tempo, pra nunca mais me sentir impotente ante a algo que ninguém sequer vê. Tempo é só um negócio que a gente sente: na pele, nas articulações, nas veias congestionadas, nos lapsos de memória. É simplesmente revoltante o fato de a minha vida – a de todo mundo, na verdade – ser regida por esse monstro abstrato e covarde, que ataca pelas costas e sempre foge, sem nos dar a mínima oportunidade de capturá-lo.
Foi esse bandido quem desfigurou minha caligrafia, inclusive. E foi também ele quem, ao seu longo, me fez cética, descrente, descoordenada, desmemoriada. Quase insana, afirmam fontes fidedignas [ok, o ‘quase’ foi por minha conta. Alguém nessa história deve se pronunciar em minha defesa, afinal]. Não bastasse isso, teve a audácia de me amolecer, pois eu já fui sim muito mais cruel com os seres humanos do que sou hoje; Roubou meu sono, consequentemente também minha saúde, minha paciência, e acho que tudo isso apenas pra eu nem sentir quando ele por fim me tomar a vida.